As Visitações em Gondalães (VII)

No primeiro de Julho de 1790, o emissário enviado à paróquia de S. Pedro de Gondalães foi o Dr. Manuel Lopes Loureiro, abade de São João de Grilo. Importa destacar do documento os dois parágrafos que se seguem:

«Satisfaçam-se as obras preceituadas nas visitas do ano de 1780, e 83, no que terá todo o cuidado o reverendo Pároco: ponha-se uma fechadura na pia baptismal, e consertem-se as grades, que a cercam. O vaso de levar o sagrado viático doure-se por dentro, e também se doure a chave do sacrário.»

«Reformem-se as paredes arruinadas da residência e tapamentos, fazendo-se o mais, que na mesma se faz necessário para que de todo se não arruíne: para isto não determino tempo ao Reverendo Pároco porque espero do seu cuidado trate desta obra com o zelo, que deve, e se espera da sua religião.»

Igreja Paroquial de Gondalães na actualidade

O Dr. Manuel de Sousa e Silva, abade reservatário de Nevogilde, voltou para visitação no dia 13 de Junho de 1794. Em relatório, deixou expresso o seguinte: «Vi a gravíssima necessidade que há de mangas da cruz, as quais se ponham dentro de seis meses, como também é de extrema necessidade o conserto do telhado da igreja, o supedâneo do altar do Senhor do Bonfim, e aprontar a cortina que havia para cobrir a mesma imagem, de umas vidraças para as frestas da igreja, e reformar a tapadoura da pia baptismal, e compor as grades que a cercam: cujas obras ou parte delas se tem preceituadas nas visitas passadas, e para que se não disfarcem, como até agora, hei por cominada pena de seis mil réis aos oficiais da confraria do Subsino, que pagarão 14 da sua bolsa e para as mesmas obras, se dentro de seis meses o não cumprirem.»

A primeira examinação canónica a Gondalães no século XIX ocorreu no dia 22 de Julho de 1813. Foi responsável pela mesma José de França de Castro e Moura. Vivia-se então ainda em contexto da Guerra Peninsular, pelo que, no relatório deixado aquando dessa visita, encontrámos o seguinte e elucidativo parágrafo:

«Todos os Eclesiásticos, e mais fiéis satisfarão prontamente as requisições que lhes forem pedidas para o socorro da presente guerra ou sejam em dinheiro, ou em víveres, ou transportes, ou em outra qualquer coisa: estando os Reverendos Párocos, como os confessores e Pregadores, e mais pessoas empregadas serão infatigáveis / cada um pelo seu competente lugar / em persuadir a todos os vassalos a mesma prontidão até mesmo em se não subtraírem aos serviços tanto da tropa de linha, como da miliciana, instruindo-os na verdadeira obediência aos soberanos e mais superiores, fazendo-lhes conhecer que quem desobedece aos Poderes Legítimos desobedece a Deus, porque todo o poder vem de Deus, e por Deus, e em nome de Deus é que os superiores governam, inspirando sempre em tudo, e a todos os melhores princípios da sólida, verdadeira Moral, que não só é a primeira e a principal razão da nossa felicidade, mas se acha de tal sorte unida à nossa Santa Religião, que com ela se desempenharam exactamente os deveres desta.»

Depois de deixar por escrito capítulos ou recomendações gerais, o prelado diocesano passou a aspectos particulares e cujos parágrafos transcrevemos:

«[Que se deveriam] fazer duas vestimentas de Damasco de Seda uma roxa e outra verde com os seus pertences por não serem tais as que existem posto que (…) deverão mandar-se fazer umas chaves para a mão do Padroeiro e o bordão com a açucena para a mão de S. José; o soalho da igreja deve ser feito de novo, ou ao menos consertado em termos decentes: deve pôr-se uma fechadura na tampa da pia Baptismal com sua chave: consertar-se o armário dos Santos Óleos que se acha junto a ele: deve tirar-se da igreja a tumba, e o esquife por ser indecente, e fazer-se uma casa da fábrica para ele e mais pertences da freguesia: deve consertar-se o coro e suas escadas: fazerem-se sacras para todos os altares: reformar-se a mesa do Altar de N.ª Sr.ª da Esperança pôr uma mão na imagem de Santa Quitéria que no mesmo está: pôr relíquias em todas as pedras de ara que as não tiver, ficando suspensa a do Altar do Sr. Jesus por estar quebrada: pôr-se no confessionário das rodas uma porta na frente: Manga branca e roxa para altares da confraria do Subsino: reformar-se e compor-se os telhados da igreja e mais o que for necessário para a sua segurança e evitar que chova nela, e por dentro compor o caleamento do necessário por estar em muitas partes caído.»

«E porque o povo se não apronta com a diligência que deve para acompanhar o Santíssimo quando sai por viático, e para o mais serviço da Igreja, o R.do Pároco vigiará sobre este ponto, condenando ou fazendo condenar os que faltarem para as obras da igreja segundo a possibilidade de cada um, e quando ainda assim não compareçam dará parte a juízo para se proceder como for justo, e conforme as intenções de S. A. R. se dourará por dentro e lábios o vaso que serve de levar o mesmo Santíssimo e todo o sobredito e o mais que se achar por cumprir das visitações passadas se cumprirá no termo de seis meses por aqueles pelas respectivas pessoas a isso forem obrigadas.»

«Espera-se do zelo do R.do Pároco que quanto antes as circunstâncias lho permitirem conclua na Residência as obras necessárias, ao menos concluindo as da primeira sala da entrada: e não se cumprindo no tempo mandado aquelas que o têm taxado se dará conta a juízo para se proceder conforme o direito.»

Tal como já vimos em circunstâncias análogas, no dia 4 de Dezembro de 1814, foi escolhido um altar privilegiado de sufrágio e indulgência pelas Almas. Nessa data, foi eleito pelo pároco e para esse fim, o altar de Nossa Senhora da Esperança existente na igreja paroquial.

A 25 de Novembro de 1823, foi feita visita pastoral pelo Dr. António Navarro de Andrade, cavaleiro professo na Ordem de Cristo e abade de Bitarães. Depois dos apontamentos gerais, o capítulo 4.º do relatório consta do seguinte: «Notei que o madeiro da porta travessa está absolutamente podre, de sorte que com qualquer pequeno empurrão se pode roubar a igreja, em tal caso, é indispensável a feitura de uma porta nova. Também observei que a Confraria do Subsino está sem Cruz Paroquial e que as mangas da que existiu estão incapacíssimas e indecentes, os fregueses cuidem sem perda de tempo em dar aviamento a estas obras de tanta carência; assim como reforme por dentro do armário dos santos óleos, e para este fim lhe concedo o termo preciso de quatro meses, findos os quais o R.do Pár.º dentro em cinco dias dará parte a juízo para se proceder conforme o Direito.»

O reverendo Joaquim José Xavier Coelho Cardoso Nobre, abade de Bitarães e Vigário da Vara, realizou examinação pastoral a 12 de Agosto de 1840. Do documento constam apenas estas breves indicações: «Determino se faça uma umbela para se levar o Santíssimo aos enfermos. E o R.do Pároco não admita aos ofícios divinos eclesiásticos sem hábito talar.» E assim termina o livro de Gondalães.

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