As Visitações em Gondalães (V)

O Dr. João Ramos foi o encarregado episcopal da incursão a Gondalães realizada a 15 de Julho de 1744. Além de observações gerais, extraímos os seguintes parágrafos relativos a aspectos particulares:

«Achei quebrado o sino desta igreja e como seja coisa precisa e não haja outro mando que os fregueses desta freguesia no termo de dois meses ponham outro sino pena de seis mil réis para Sé e Meirinho.»

«Como para se administrar o Santíssimo Sacramento aos enfermos pode suceder não haver comodidade para ser levado com pálio tanto por razão dos caminhos como pela ocasião dos tempos, e para que seja levado com a decência e pompa possível mando se faça uma umbrela por modo de guarda-sol de pano oleado por cima e forrado por baixo de seda branca em forma que uma pessoa o possa levar cobrindo ao Sacerdote o que se fará à custa da confraria do mesmo Santíssimo Sacramento ou da pessoa por cuja conta corre a obrigação do pálio e paramentos necessários para as tais funções.»

«Mando outrossim que os confessionários sejam cerrados ou de rótulas em que os Confessores estarão com sobrepeliz e estolas.»

Altar de Nossa Senhora da Esperança, Gondalães

A 10 de Maio de 1746, a visitação é feita pelo D. Manuel Coelho Pereira de Melo, fidalgo capelão da Casa Real e vigário de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. Além de indicações genéricas e que já vimos em relatórios de outras paróquias do concelho de Paredes, nada mais se retira do documento deixado nesta ocasião.

O Dr. Cristóvão de Magalhães Porto foi quem efectuou a visita pastoral de 7 de Julho de 1748. Do relatório resultante extraímos o que se segue: «Achei o sacrário sem cortina decente e os castiçais do altar esfolhados e o pano do púlpito velho em forma, que causa indecência. Ordeno que em termo de dois meses se faça outro novo e se ponha no sacrário cortinas de seda e se toquem, e pintem os quatro castiçais, com pena de dois mil réis aplicados para a confraria do Senhor se no dito tempo se não fizer as ditas obras ao Reverendo Pároco mandará a certidão deste capítulo ao Reverendo Promotor.»

A 14 de Junho de 1750, o emissário episcopal foi Francisco Pinto Duarte, abade de Retorta. Nenhuma indicação particular foi dada, e das indicações gerais merece apenas nota a ordem para que fosse «festivo o dia de Santo António e se guarde de preceito em observância ao seu decreto de 6 de junho do ano próximo passado de 1749».

O Dr. Manuel Carlos de Carvalho Vilas Boas, protonotário apostólico e juiz sinodal, foi quem conduziu a visita de 11 de Setembro de 1752. Desta diligência, destaque para a reforço de indicações passadas sobre os «serões escandalosos»: «Também recomendo ao Reverendo Pároco a execução dos capítulos a respeito dos serões que nesta freguesia se costumam fazer com tanta ruína das almas: executando as penas cominadas nos mesmos capítulos.»

A 21 de Maio de 1754, a examinação canónica foi realizada pelo Dr. Manuel Álvares Ferreira, protonotário apostólico, juiz sinodal e desembargador da Mesa Episcopal. Do relatório respectivo merecem destaque dois capítulos:

«Depois de reverenciar profundamente o Santíssimo Sacramento examinei a decência do sacrário, santos óleos, pia baptismal, altares, pedras de ara, cálice e ornamentos a mesma igreja pertencentes, e o que achei com necessidade de reforma é que a chave do sacrário é de ferro, e que não há nesta igreja pluvial roxo que mando se faça uma chave de prata para o sacrário e o referido pluvial no termo de dois meses o que espero no Reverendo Pároco que com o seu zelo assim o execute para melhor glória de Deus e como também dourará um cálice pela parte interior e a patena pela superior.»

«Pelo que consta dos capítulos das visitações deste livro e do outro dos baptizados, casados e defuntos por pertencentes a esta igreja de Gondalães acho de posse ao Reverendo Pároco do seu benefício do ano de mil e setecentos e vinte e quatro, e porque as casas da sua residência estão envelhecidas de sorte que pedem uma total reforma em que não cuida para entesourar os rendimentos tendo à sua incumbência esta obrigação: mando que dentro de um ano faça reformar de novo as referidas casas, com cominação de que não o fazendo pagará para as despesas da justiça vinte mil réis, eu o Padre Marinho Barbosa Santiago secretário o escrevi.»

No dia 15 de Junho de 1755, foi o bispo de Tânger e administrador apostólico da Diocese do Porto, D. João da Silva Ferreira, quem visitou a paróquia de S. Pedro de Gondalães. Nesta solene ocasião foi feita a absolvição dos defuntos, o jubileu plenário – concedido pelo Papa sempre que a visitação fosse feita pessoalmente pelo bispo e não por emissário – e administração dos sacramentos da Eucaristia e Confirmação. Do relatório, extraímos os capítulos mais relevantes:

«Mande fazer um vaso pequeno para nele se levar o Sagrado Viático aos enfermos, e que seja de prata, uma vestimenta verde, e consertar a porta do armário, em que se guardam os santos óleos de sorte que fique justa, o que mandará fazer o Reverendo Pároco no termo de quatro meses, aliás se procederá a sequestro.»

«Que a freguesia mandará no termo de quatro meses engessar, ou pintar todo o tecto da igreja, ou corpo dela, e passado o termo não se fazendo assim o Reverendo Pároco procederá até de participantes contra o juiz da igreja.»

Os livros de visitações continham por vezes, como vimos já relativamente a outras paróquias, treslados de documentos gerais e, ainda que em muito menor número, alguns mesmo particulares, como os pró-memória. É o caso da consagração de um altar privilegiado em cada paróquia, segundo o indulto concedido pelo Papa Clemente XIII. No caso de Gondalães, fora escolhido «in perpetuum o de Nossa Senhora da Esperança sito na Igreja Matriz da dita freguesia, no qual celebrando qualquer sacerdote secular ou regular missa de defuntos, lucre a alma ou almas por quem se aplicar indulgência per modum sufragii, e consiga o alívio das rigorosas penas do purgatório pelos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo» (Silva, 2011:418-9, vol. II).

O Dr. Manuel Álvares Ferreira, protonotário, juiz e reitor de S. Vicente de Pereira e de S. Martinho da Gândara, regressou em visita a Gondalães no dia 19 de Junho de 1763. Além de indicações gerais e repetidas ipsis verbis noutros documentos de outras paróquias, relevamos desta ocasião apenas o seguinte: «Para perfeição do sacrifício incruento, e conformidade dos rituais se mandarão colocar nas cruzes dos altares desta igreja, e capelas imagens do Santo Cristo no termo de dois meses. (…) Não se cumpre ao preceito de ouvir missa estando fora dos templos sagrados, podendo assistir dentro deles, e pela queixa que tive mando ao Reverendo Pároco nomeie em segredo uma pessoa em cada capela, e outra na igreja para lhe darem conta dos transgressores, que serão multados em meio tostão, e sendo de fora da freguesia fará aviso ao seu Reverendo Pároco para virem pagar a condenação, e não satisfazendo proceder-lhe-á de participantes e não admitirá sem terem pago.»

No dia 8 de Outubro de 1765, houve nova visita pelo Dr. Manuel José da Silva e Oliveira, desembargador da Mesa Episcopal e juiz dos Resíduos, sendo que no competente relatório não ficou nada de particular. O Dr. Alexandre José Vieira, abade de S. Miguel de Matos, deslocou-se a Gondalães no dia 9 de Junho de 1769. Tal como no caso anterior, do documento se fizeram constar apenas determinações gerais.

(Continua)

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