As Visitações em Gondalães (III)
No dia 23 de Setembro de 1702, a paróquia de S. Pedro de Gondalães é visitada pastoralmente pelo Dr. João da Fonseca, comissário do Santo Ofício, examinador sinodal e abade de S. Martinho do Campo. Depois dos termos habituais e de uma prerrogativa já por nós encontrada anteriormente a respeito de práticas de pesca por envenenamento de peixes, o relatório expressa também o seguinte:
«Os fregueses têm satisfeito com a porta travessa de novo, e também me constou tinham dado o conserto do forro ao oficial para a fazer e que este lhe não tinha dado cumprimento por doenças que lhe sobrevieram em sua casa, à vista do que tanto pelo que falta ser pouco, como pelas ditas causas da doença não procedo a execução da pena, e mando aos ditos fregueses satisfaçam, ou façam satisfazer a dita obra, em termo de um mês com pena de quatro mil réis e de se lhe levar além desta a pena pro rata assim na visitação passada, e no caso que algum dos fregueses seja rebelde em concorrer conforme suas possibilidades e determinação dos deputados, o Reverendo Pároco evitará passados oito dias a primeira publicação desta.»
O Dr. Filipe Moreira, abade de S. Vicente de Tougues, realizou visita a 22 de Setembro de 1703. À excepção de reiterar a necessidade de cumprimento dos capítulos gerais anteriores, nada de particular foi deixado nesta ocasião.
![]() |
Altar-mor da Igreja de Gondalães na actualidade |
Dois anos depois, Gondalães recebe como examinador pastoral o Dr. João de Almeida Ribeiro, protonotário e abade de Gandra. Do relatório se extrai o seguinte: «Os Mordomos da confraria do Santo Nome de Deus mandarão fazer um banco, ou caixa com sua fechadura para se recolher o pão das esmolas que se tiram para a dita confraria o que farão em termo de dois meses sob pena de dois mil réis para Sé e Meirinho.»
Além do exposto, foi pedido ao pároco que remetesse à Cúria os livros de registo paroquial: «O Reverendo Pároco sob pena de excomunhão maior em termo de dois meses remeta ao cartório da Câmara Eclesiástica deste Bispado todos os livros dos assentos dos baptizados, crismados, casados e defuntos desta igreja que tiver findos, de que cobrará recibo do Escrivão da Câmara de como fica entregue de vez, a qual juntará ao livro novo para a todo o tempo constar em como estão no Cartório da Câmara.»
No dia 23 de Setembro de 1706, a visitação esteve a cargo do Dr. João Guedes Coutinho, abade de S. João de Ver. Do documento manuscrito, importa apenas extrair o seguinte: «Os fregueses mandarão reformar a pintura do painel do arco da capela mor, e também mandarão fazer quatro bancos para a igreja por serem muito necessários ao que satisfarão em termo de dois meses sob pena de pagarem dez tostões para sé e meirinho no caso em que não satisfaçam no dito termo.»
O cónego prebendado da Sé, Luís de Sousa de Carvalho, foi o emissário episcopal para a examinação de 24 de Setembro de 1707. Do relatório extraímos os seguintes capítulos:
«Nas músicas que houver nesta igreja levantará sempre o compasso um sacerdote músico havendo-o e sempre cantarão ao divino e não papéis curiosos que causam escândalo.»
«Para evitar os escândalos que há de muitas pessoas estrangeiras que vêm para a freguesia, mando que nenhum freguês alugue, ou dê casa a pessoa alguma que venha de fora da freguesia que não seja conhecida e de boa vida, sob pena de mil réis cada um para o cepo.»
«Mando em virtude de santa obediência aos fregueses não façam (nem dêem conselho para isso) caminhos desusados pelos passais da igreja, nem deles cortem ou usurpem coisa alguma contra vontade do Reverendo Abade.»
«Os Mordomos da confraria do Santo Nome que são e ao diante forem, todo o rendimento de sua confraria metam na caixa que há donde se não tirará direito algum salvo se for para alguma coisa precisa, e fazendo o contrário o Reverendo Abade os condene em quinhentos réis para o cepo.»
«Os Mordomos das confrarias desta igreja o rendimento delas o não gastem mais que no ornato delas, e não em banquetes, comédias, e outras coisas.»
«Os fregueses no termo de dois meses sob pena de quinhentos réis comprem os paramentos necessários com que se abram as sepulturas por não haver alguns.»
«O Reverendo Abade proverá de um missal novo pelos que há nenhum já ser capaz, e (...) satisfaça porque lhe conheço o grande zelo com que se há.»
No dia 6 de Maio de 1709, a visita é dirigida pelo Dr. João Lopes Baptista Tameirão, mestre na Sagrada Teologia, protonotário, Vigário Geral na Sacrossanta Basílica Lateranense e donatário do Couto de Meinedo. À excepção de ter visitado e constatado a decência da igreja paroquial e suas dependências, nenhuma outra indicação particular ficou desta examinação.
O Dr. Manuel da Costa Almeida foi o responsável pela visita de 24 de Maio de 1710. Nada se extrai de relevo dos capítulos firmados nesta ocasião.
A 11 de Outubro do ano seguinte, o emissário do bispo foi aquele que era, na circunstância, o próprio abade de Gondalães, Dr. Francisco Xavier Delgado. Tratara-se de algo excepcional, que Lisbeth Silva, na sua tese de mestrado sobre este assunto (2011:80 vol. 1) não deixou de notar: «Provavelmente, este mecanismo tinha como principal objectivo fazer com que os visitadores mantivessem a isenção necessária à execução de uma tarefa que se pretendia que fosse livre de constrangimentos ou, por outro lado, funcionar como travão ao aumento dos pagamentos que se faziam pelos serviços prestados. Neste sentido, apenas por uma vez, ao longo do intervalo de tempo em estudo, o visitador eleito pelo bispo procedeu à visita da freguesia onde possuía um benefício. Trata-se do doutor Francisco Xavier Delgado que, em 11 de Outubro de 1711, visitou S. Pedro de Gondalães, freguesia aonde era abade.» No relatório dessa visita, além de recomendações gerais sobre o modo de vestir dos eclesiásticos, nada de específico fora mencionado sobre a comunidade local e/ou o seu património.
No dia 23 de Setembro de 1712, António da Costa Falcão, beneficiário reservatário de Paços de Brandão e abade da Sé do Porto, dirigiu a visita pastoral. Do relatório constam apenas indicações de carácter geral.
No ano seguinte, o emissário do bispo em serviço de visita foi o cónego prebendado da Sé, Domingos Ribeiro Nunes. Tal como a anterior, também não se extrai do documento nada de particular.
O cónego Dr. Dinis da Silva e Faria efectuou a examinação no dia 3 de Outubro de 1714. Para a posteridade ficou o seguinte capítulo: «Achei que nesta freguesia não havia esquife para enterrar as crianças. Pelo que mando aos Oficiais do Subsino que em termo de um mês façam esquife e para que se faça com brevidade mando que os resíduos que há na confraria do Nome de Deus se tire o que for necessário para a dita obra e para se pagar ao juiz que serviu do Subsino o custo que fez em obras da igreja, o que tudo se fará em presença do Reverendo Pároco, e à sua disposição.»
A visita de 15 de Outubro de 1715 foi feita pelo abade de Fontelas, Pe. Luís de Sousa de Carvalho. Transcrevemos do documento o parágrafo que se segue: «O juiz e mais fregueses farão uma escada para o sino, e mandarão também consertar as grades do baptistério e as porão fechadas com sua chave que entregarão ao Reverendo Pároco e mandarão renovar e caiar o corpo da igreja por disso necessitar ao que darão satisfação em termo de seis meses sob pena de dois mil réis por cada coisa que faltar para sé e meirinho.»
Da incursão pastoral do ano seguinte, realizada a 24 de Setembro e a cargo do mestre-escola da Sé, Dr. Manuel Carneiro Araújo, nada ficou de particular no competente relatório.
(Continua)
Comentários
Enviar um comentário