As Visitações em Castelões de Cepeda (V)

No dia 12 de Outubro de 1711, a paróquia de São Salvador de Castelões de Cepeda é visitada pastoralmente pelo Dr. Francisco Xavier Delgado, abade de S. Pedro de Gondalães. Depois de visitar a igreja, altares, demais dependências, tudo encontrando com decência, e depois de recomendar o cumprimento das visitações passadas, o emissário episcopal deixou recomendações aos eclesiásticos sobre o modo de vestir. Nada mais há de particular a extrair deste relatório.

No ano seguinte, a 24 de Setembro, o visitador foi António da Costa Falcão, beneficiário reservatário da paróquia de S. Cipriano de Paços de Brandão e abade da Sé do Porto. O relatório repete, no essencial, o conteúdo da visita anterior.

No mesmo dia de 1713, a visita é conduzida por Domingos Ribeiro Nunes, cónego prebendado na Sé do Porto. No documento ficaram apenas recomendações gerais e dirigidas a sacerdotes.

Tal como os anteriores, o manuscrito da visita de 4 de Outubro de 1714, feita pelo Dr. Dinis da Silva e Faria, cónego da Sé, não nos fornece indicações históricas a relevar. Com mais substância informativa surge-nos o relatório da visita de 16 de Outubro de 1715, feita por Luís de Sousa de Carvalho, abade de S. Miguel de Fontelas. Depois das formas de estilo habituais, o emissário postulou o seguinte: «Consta-me que para esta freguesia vêm habitar muitas pessoas de várias partes com o pretexto da feira que nela se faz todos os meses e que os fregueses convieram em que se lhe não havia de dar casa nesta freguesia sem que primeiro se ofertassem com dez tostões sendo casados e sendo solteiros com cinco para a confraria do Subsino. Mando assim se observem e o que der a dita casa sem pagarem a dita multa incorram nas penas das visitações passadas e o R.do Pároco os não consinta na freguesia sem mostrarem o estado que têm e onde foram desobrigados no que se observará a constituição deste Bispado.»

Em seguida, uma nota sobre as obras da igreja: «O juiz e mais fregueses como são zelosos mandarão acabar as obras do corpo da igreja a arbítrio do R.do Pároco e mandarão tapar o adro de parede dobrada para que não entrem animais imundos e também mandarão consertar a capela de Nossa Sra. da Guia por estar destruída e ficar na passagem da estrada tudo a arbítrio do dito R.do Pároco ao que darão satisfação em termo de dez mil réis por cada coisa que faltar para sé e meirinho.»

A 25 de Setembro de 1716, visita Castelões de Cepeda o Dr. Manuel Carneiro de Araújo, mestre-escola da Catedral do Porto. Nada há de particularmente relevante a retirar do relatório respectivo.

No dia 23 de Agosto de 1719, o emissário é o Dr. Jacinto Leal de Sousa, Comissário do Santo Ofício, reitor de Canedo e suas anexas. A primeira nota diz respeito a formalidades a tomar pelo pároco para os casos de crianças enjeitadas e respectivas amas. A segunda tem o seguinte teor: «Requereu-se-me em audiência que o caminho do lugar da Lama estava incapaz de por ele se administrarem os sacramentos, maiormente no tempo de inverno, em razão das águas que nele se juntam, portanto mando que os moradores que nele tem serventia para a igreja o consertem, pondo-lhe poldras de pedra capazes de por elas se poder administrar os sacramentos, cada um na sua testada em prazo de três meses com pena de se lhe dar em culpa na visita vindoura.»

João Álvares de Azevedo Monteiro, abade reservatário de Penhalonga e cónego prebendado na Sé do Porto, efectuou a examinação pastoral de 29 de Outubro de 1721. Nesta ocasião fora determinado que «por não se ter dado cumprimento ao capítulo da visitação passada sobre o conserto do caminho do lugar da Lama, mando lhe dêem cumprimento sob pena de dez tostões cada um para sé e meirinho e não dando cumprimento no dito termo o R.do Pároco executará a condenação.»

Em seguida, os problemas detectados no zelo do templo paroquial: «Por ver o pouco zelo com que os oficiais da igreja tem do telhado desta igreja e os fregueses vedado a água que lhe entra pela porta em dado os gados que entram no adro, mando em termo de dez dias retelhem a igreja e na porta principal ponham uma soleira de quatro dedos que vede as águas que entram pela porta e ponham umas grades nas portas do adro que vede os gados e o R.do Abade abra o portal na parede dele para a serventia do celeiro aonde porá umas portas o que os fregueses cumprirão em termo de dois meses e não tendo no dito termo feita a obra referida o juiz e procurador da igreja pagarão quatro mil réis em que os condeno e o R.do Pároco executará pena de obediência.»

Igreja Paroquial de Castelões de Cepeda, Paredes, na actualidade

A terminar o documento, a nota que se segue: «E porque o sino desta igreja está quebrado e incapaz de invocar a gente por se não ouvir nem ainda nos lugares de mais perto, pelo que mando aos fregueses sob pena de dez mil réis dentro em seis meses mandem fazer sino novo capaz de se ouvir em toda a freguesia. Como também me constou que os fregueses desta igreja são descuidados no que pertence à sua necessidade não consertando e fazendo as presas desta freguesia no que também a igreja recebe perda e nos dízimos pelo que lhe mando façam as ditas presas sob pena de cinco tostões em que condeno a cada um dos que faltarem para as obras da igreja e o Procurador do Subsino os dará em rol ao R.do Pároco para os executar o que cumprirá dentro do tempo necessário todos os anos.»

No dia 26 de Setembro de 1723, a visitação é feita pelo Rev.do João da Silva de Magalhães, fidalgo da Casa de Sua Majestade e coadjutor futuro sucessor do arciprestado da Sé do Porto. Além das referências habituais e de uma determinação extensível a todo o bispado, nada há de particular a retirar do relatório desta visita.

A 16 de Outubro de 1725, Castelões de Cepeda recebe o emissário episcopal Dr. Pedro Valente de Aguiar, abade de Santa Marinha da Retorta. Após ter visitado a igreja e constatado a sua conformidade e decência, e depois de recomendar que se cumprissem as determinações anteriores, o documento manuscrito da visita faz constar o seguinte: «Por se me requerer em audiência que o Altar da Capela de Nossa Senhora da Guia não tinha pedra d’ara nem cálices, nem corporais, e nem bolsa dele para que com decência se celebrasse o sacrifício da missa com a perfeição devida, mando que os fregueses preparem a dita capela com os sobreditos paramentos e galhetas para se celebrar o sacrifício da missa e retelharão esta igreja e a (pintarão?) para que esteja com a perfeição devida.»

A escassez de alfaias litúrgicas em face do elevado número de padres que havia na freguesia, também mereceu um capítulo próprio no relatório: «E também por ver o grande número que há de sacerdotes nesta freguesia e que não tem se não um cálice para dizerem missa, mando que os fregueses preparem o outro altar colateral de alva, corporal, cálice e missal para que os sobreditos paroquianos possam dizer a sua missa sem detrimento seu e a tempo conveniente de se recolherem a suas casas, porque como são muitos não podem dizer missa com comodidade, o que tudo cumprirão em tempo de dois meses sob pena de dois mil réis ao juiz e outro tanto ao Procurador da igreja, e também consertarão os frontais.»

No dia 8 de Maio de 1727, realiza visitação o Dr. Carlos da Rocha Pereira, Comissário do Santo Ofício e abade reservatário de Lordelo. O relatório começa com as indicações do costume e em seguida reproduz uma determinação geral sobre o traje dos clérigos.

Nova visita se realizara a 7 de Junho de 1729, conduzida por D. Bento da Assunção Pimenta, abade de Esmoriz. Além das formas de estilo, o visitador encerra o documento dizendo que «nada acha que prover nesta igreja». A 5 de Maio de 1731, o visitador é o reverendo António de Sousa Cirne, vigário de S. Cristóvão de Ovar. Tal como os anteriores, visitou o Santíssimo, a Capela Mor, altares colaterais, pia baptismal, santos óleos e ornamentos e achou tudo decentemente ornado. Depois de ordenar o cumprimento dos capítulos retro, deixou instrução ao pároco sobre o cuidado de retirar anualmente a esmola da Casa Santa de Jerusalém, bem como mais alguns reparos de vestuário e postura dirigidos aos sacerdotes e quanto a celebrações de defuntos.

(Continua)

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