As Visitações em Gondalães (IV)
Em Agosto de 1719, a tarefa de visitação coube ao Dr. Jacinto Leal de Sousa, comissário do Santo Ofício, reitor de Canedo e suas anexas. O emissário do bispo deixou no manuscrito a seguinte determinação:
«Por estarem as portas principais da igreja muito velhas com pouca segurança, e dever-se toda a cautela onde está o Santíssimo Sacramento e por assim me ser requerido pelo mesmo juiz do Subsino, mando que em termo de quatro meses mandem os fregueses fazer portas novas fortes, e com chave bem segura sob pena de dois mil réis para o que dobrarão uma, ou duas vezes o anual da confraria conforme o custo que fizerem, e sob pena de cinco tostões, que no dito termo comprem uns couros, que cubram os altares colaterais para limpeza das toalhas, pois é razão que onde se celebra o santo sacrifício da missa esteja com toda a decência, limpeza, e asseio; convém a saber para o altar do Santo Nome os mandarão pôr os oficiais da mesma confraria, e para o da Senhora o juiz da dita devoção das esmolas, ou rendimento que há para o culto da dita Senhora. E sob a mesma de cinco tostões e no dito termo de quatro meses mando se ponha uma pedra de ara no altar do Santo Nome por ser indecente mudar-se a pedra de ara de um altar para outro todas as vezes que se disser missa no dito altar, e também à custa da confraria do Santo Nome.»
No dia 28 de Outubro de 1721, a visita foi conduzida pelo cónego João Álvares Monteiro, abade de Penhalonga. Os capítulos deixados por esta ocasião, cingem-se a determinações gerais e extensíveis a toda a diocese.
![]() |
Imagem do padroeiro - S. Pedro - da Paróquia de Gondalães |
O reverendo João da Silva de Magalhães, fidalgo da Casa Real e coadjutor futuro sucessor do arciprestado da Sé do Porto, foi o delegado episcopal na visita de 25 de Setembro de 1723. Tal como na anterior, desta incursão não ficou registo de particularidades que possam interessar à história local.
Em Outubro de 1725, o emissário foi o Dr. Pedro Valente de Aguiar, abade de Retorta. Ficou em relatório o capítulo que se segue: «Fui informado que os fregueses desta igreja em vindo aos domingos e dias santos para ela se deixam ficar no adro a conversar uns com os outros sem entrar para a dita igreja nem assistirem às amentas que se rezam pelas almas dos defuntos nem também andam nas procissões que se fazem e se deva estanhar muito uma e outra coisa pelo que mando ao Reverendo Pároco que não consinta que nenhum freguês deixe de andar nas ditas procissões nem de assistir às amentas como também que todos estejam dentro da igreja antes de se entrar à missa e que o que o contrário fizer e faltar a uma e outra coisa o Reverendo Pároco o condenará pela primeira vez em cinquenta réis e pela segunda em cem réis e não satisfazendo os evitará da igreja e ofícios divinos o que se entenderá também nas missas de manhã.»
No dia 7 de Maio de 1727, o examinador canónico foi o Dr. Carlos da Rocha Pereira, comissário do Santo Ofício e abade reservatário de Lordelo. Nada de particular há a extrair desta visita.
D. Bento de Assunção Pimenta, abade de Esmoriz, realizou visita a 6 de Junho de 1729 e «nada achou que prover» em Gondalães.
Em Maio de 1731, o emissário foi o reverendo António de Sousa Cirne, vigário de S. Cristóvão de Ovar. Do documento que daí resultou, transcrevemos o capítulo que se segue: «E porque achei que nesta igreja havendo sacrário não há turíbulo para incensar o Santíssimo Sacramento quando se administra por viático, mando que à custa dos fregueses se ponha um turíbulo com sua naveta e incenso para o necessário culto sobredito e se por ser a freguesia pobre o não puderem fazer de prata ao menos o mandem fazer de metal o que cumprirão no termo de dois meses sob pena de quatro mil réis para o cepo que o Reverendo Pároco pena de excomunhão fará lançar nele.»
Pedro do Paço, comissário do Santo Ofício e abade de Santo André de Várzea, realizou visita a 10 de Maio de 1733. No documento ficou escrito que, naquela comunidade paroquial, além das instruções gerais, nada havia que providenciar.
No dia 25 de Setembro de 1734, o encarregado do exame pastoral foi o Dr. João de Faria e Gouveia, abade de S. Romão de Vermoim. Tal como na visita do ano anterior, também aqui nada havia de específico a determinar.
O Dr. Bento Lopes de Carvalho, abade de Covelas, realizou visita a 26 de Julho de 1736. Achando a igreja «bem servida pelo pároco», o clérigo deixou apenas indicações sobre as tarefas do pároco no que concerne ao exame doutrinal dos noivos, bem como uma recomendação aos sacerdotes da freguesia acerca do estudo e das conferências a que deviam assistir.
Dois anos depois, a 24 de Junho, esteve em Gondalães o Dr. Domingos Ribeiro, protonotário apostólico e desembargador da Mesa Episcopal. Nenhuma indicação de relevo há a extrair do manuscrito.
Em Outubro de 1741, a visita foi feita pelo Dr. António Roiz de Araújo, protonotário apostólico. Contrariamente às anteriores, desta ocasião há capítulos de interesse a relevar:
«Achei o ladrilho e soalho do corpo da igreja não só mal direito mas também podre, e com desordem maiormente em um degrau que faz a porta principal e outro com um pedaço de soalho que serve de pavimento e supedâneo aos altares colaterais sendo tudo não só indecente mas também pode resultar perigo nas pessoas que entram e saem, e o que mais é aos Sacerdotes quando vão e vêm dizer missa ou administram os sacramentos; pelo que mando que os fregueses façam soalhar de novo todo o dito corpo da igreja e seja de sorte que for possível não fiquem os degraus na entrada e abaixo do supedâneo dos altares colaterais.»
«E como também achei o mesmo corpo da igreja e por cima do arco um quadro com uma imagem de Cristo com pintura antiga rota, que já não mostra o que deve ser, mande que o Reverendo Pároco faça logo tirar o dito quadro pena de excomunhão maior ipso facto, e mais o não consinta na igreja, salvo se se poder pintar de novo, e com a devida decência para poder estar no tal lugar.»
«Outrossim me constou que tendo os fregueses um caixão para recolhimento da sua fábrica e mais coisas a ela pertencentes o têm no coro desconsertado, e ocupam os caixões da sacristia com a dita fábrica à vista do que mando também os fregueses reformem o dito caixão ou façam outro de novo para recolhimento da dita sua fábrica, cuja obra e as acima determinadas farão no termo de 6 meses com pena de dois mil réis para Sé e Meirinho e o Procurador da igreja ou Juiz será obrigado a varrê-la ao menos uma vez cada mês tendo-a sempre com limpeza e não o fazendo assim o Reverendo Pároco condenará a cada um em cem réis por cada vez que o não fizerem sem remissão, e mando que se ponham três confessionários novos no corpo da igreja em execução da pastoral do Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Bispo.»
«E como também me constou que o Reverendo Abade se achava próximo a soalhar a capela mor e levantar as paredes dela e fazer-lhe algum acrescento e armá-la e forrá-la, de novo, lhe louvo muito o zelo, e mando que o cumpra dentro de seis meses por assim ser serviço de Deus e amor da sua esposa e pela mesma razão mandava fazer duas vestimentas de damasco novo uma roxa e outra vermelha com suas bolsas, e mais aparelhos e duas mesas de corporais finos rodeados de renda fina ao que tudo satisfarão com a brevidade possível sendo sempre em termo de três meses como também mando se faça a portada do sacrário no mesmo termo.»
A 21 de Outubro de 1742, a visita foi feita, uma vez mais, pelo abade António de Sousa Cirne. O documento respectivo informa-nos que, nesta altura, a igreja andava em obras: «Primeiramente visitei o Santíssimo Sacramento incluso em o altar colateral do lado do Evangelho por andarem obras na capela-mor, e o altar colateral que lhe corresponde e suas imagens, pia baptismal santos óleos sacristia e ornamentos e achei tudo decentemente ornado e que, o Reverendo Pároco tinha muito bem feito a sua obrigação, o que muito lhe recomendo continue para maior glória, e honra de Deus, e edificação de seus fregueses.»
(Continua)
Comentários
Enviar um comentário